quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

André Luiz Gomes - traverso


Graduado em Música pela UEMG (Universidade Estadual de Minas Gerais), André Luiz Gomes iniciou seus estudos de Música em 1996, no CEFAR (Centro de Formação Artística do Palácio das Artes), Fundação Clóvis Salgado, em BH, sendo orientado pela prof.Pamela Schmitzer. Em 1999 ingressou no Bacharelado em flauta na UEMG, sendo aluno de Felipe Amorim e Alberto Sampaio. Posteriormente prosseguiu seus estudos no curso de Licenciatura. Iniciou seus estudos de flauta transversal barroca em 2002, atuando em vários festivais. Entre 2002 e 2009 esteve sob a supervisão da flautista Livia Lanfranchi (Itália).

Participou de masterclasses com os flautistas Ricardo Kanji e Wilbert Hazelzet. Também vem atuando em recitais em diversos espaços culturais de Minas Gerais, como o Museu do Oratório (em Ouro Preto) , Espaço Cultural Loyola, Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, e o Centro de Cultura de Belo Horizonte. Desde 2002 vem focando sua atuação no estudo das práticas interpretativas da música antiga (scs.XVII e XVIII), através do estudo de tratados e  fac-símiles.                                                        

domingo, 10 de junho de 2007

"Todas as manhãs do mundo"


A música rege cada palavra de Todas as manhãs do mundo. E o espírito barroco, com seus claros/escuros, dá forma à história do encontro entre o mestre apolíneo e o discípulo dionisíaco, que se irmanam na busca da essência da música. De um lado, a disciplina e a morbidez, de outro a voluptuosidade e o gosto pela vida mundana, com suas glórias e as riquezas.
Estamos em 1650. Época de Luís XIV, com suas perucas barrocas e rostos empoados. O senhor de Sainte Colombe, o maior violista da França, sofre uma grande perda e se afasta do mundo, isolando-se numa cabana nos jardins de sua propriedade nos arredores de Paris. Seu único prazer é a viola da gamba, que revoluciona, acrescentando mais uma corda ao instrumento e mudando até a forma de segurá-lo. A viola, parente próxima do violoncelo, era então o instrumento predileto das cortes francesas e inglesas.
Depois de insistentemente desprezar os convites para se unir aos músicos da corte, o virtuose aceita apenas um discípulo, um filho de sapateiro chamado Maran Marais, que acabaria aclamado como um gênio renovador da viola da gamba.
Este livro é o responsável pela redescoberta do barroco na Europa. O filme Todas as manhãs do mundo, estrelado por Gérard Depardieu e seu filho Guillaume, despertou comoção na França, assim como a trilha sonora do filme, reunindo antigos solos de viola da gamba.

Detalhes sobre o filme:

Algumas falas de Monsieur de Sainte Colombe:
"Todos os prazeres do mundo se retiraram, nos dizendo adeus".
"Ás vezes o vento traz música até nós".
"O segredo de nossa arte é a surpresa".
"A música existe para falar o que as palavras não podem. Nesse sentido, não é totalmente humana".
Marin Marais:
"A vida é bela à proporção em que é feroz".
"Todas as manhãs do mundo são sem volta".
***

quinta-feira, 7 de junho de 2007

A interpretação de sonatas barrocas - Aspectos gerais


A abordagem de sonatas barrocas

A interpretação de uma peça musical é mais efetiva e tem mais significado se o intérprete sabe o que a música exige dele, o que deseja comunicar, qual sua finalidade. As sonatas barrocas, por mais ligeiras e alegres ou aparentemente frívolas, necessitam possuir coerência, seja por sua relação harmônica, seu caráter (afeto) dominante, ou sua simples relação temática. Dentro desta unidade, deve abarcar suficiente variedade e contraste, bem como sustentar a audição do ouvinte. A música associada a palavras pode emitir forma, substância e caráter do significado das palavras. A música meramente instrumental, ao contrário, deve gerar por si mesma suas estruturas e recursos composicionais. O músico, desde o início, deve sentir e comunicar a forma e desenvolvimento da sonata ao longo de toda sua extensão, num processo de abordagem gestáltico.

Em termos gerais, remetemos inicialmente à natureza dos tons e temperamentos, bem como às indicações de caráter descritas no início da peça ( como por ex. Spirituoso, Affettuoso), indicando o sentimento dominante. Em seguida, aos aspectos agógicos inerentes ao discurso, como:

*Dissonâncias e modulações: produzem uma variedade de diferentes afetos, gerando propositalmente tensão no discurso.
*Intervalos próximos, ligados, geralmente expressando a melancolia e a ternura; enquanto os saltos e notas articuladas remetendo a alegria .
*Passagens lentas e cromáticas normalmente aludindo a sentimentos dolorosos.
*Ritmos com conotações afetivas especificas (ex, duas semicolcheias e uma colcheia aludindo a um caráter guerreiro).

A disciplina da retórica requer ordem e proporção. No séc. XVIII, a simetria e a justa proporção eram muito cultivadas tanto por arquitetos quanto por compositores. Uma frase musical completa equivale a uma frase de um discurso, grupos de duas ou três notas ( = sílabas ) equivalem as palavras que constituem a frase. O realce a sílabas fortes ou fracas requer coerência no sentido e ritmo das palavras. Cada frase tem um clímax retórico que se relaciona com sua cadência. A arte do intérprete era combinar a plena consciência e identificação dos afetos de uma peça com sua formulação em padrões e estruturas , tudo isso com uma impressão de espontaneidade, como se ele fosse o próprio autor da peça. Nas danças barrocas, agrupadas nas Suítes, o conhecimento de seu caráter e coreografia ajuda a compreender seu significado. Os movimentos lento-rápido-lento-rápido das sonatas de câmara asseguravam efetividade retórica: um começo sedutor para captar a atenção do público, um allegro mais comprometido, um adágio contemplativo, e um final feliz para reanimar o espírito. O intérprete deve levar em consideração os limites expressivos estipulados pela música. Dentro desses limites o tocar deve ser livre, relaxado e sincero para assim poder deixar fluir os afetos de uma maneira clara e equilibrada. O contrário disto seria o intérprete se apoderar da peça para mostrar habilidades e afetos alheios à composição. A idéia de interpretação original está no equilíbrio entre o intérprete e a composição. O intérprete precisa, para exercer sua função, de um bom controle técnico de seu instrumento, poder decifrar e controlar afetos, abstrair idéias e inspiradamente comunicá-las à audiência através do som.


(Fonte: ROWLAND-JONES, Anthony: "Playing Recorder Sonatas: Interpretation and Technique" (Clarendon Press, Oxford, 1992).